Publicado na edição do Jornal O Tempo desta sexta-feira (28/11).
Raquel Faria
Um
espanto
Uma
medida silenciosa do governo está causando espanto no meio dos auditores
fiscais: trata-se do decreto 46.649, publicado no “Diário Oficial” de 19/11, que permite ao Tesouro “executar ou autorizar aos demais
órgãos estaduais pagamentos que não sejam através do Siafi”. Trocando em miúdos: o governo
liberou pagamentos fora do sistema de controle do seu caixa. Algo impensável,
até agora.
Fura
fila
O
governo não trabalha com dinheiro vivo. Não tem como pagar nada sem passar pelo
Siafi. É impossível. Mas, o decreto tem algum propósito. Dois especialistas, a
pedido da coluna, estudaram o assunto e conseguiram uma explicação lógica para
o decreto: a medida permitiria ao governo ignorar regras do Siafi e alterar o
cronograma dos pagamentos, usualmente feitos por ordem das notas. Ou seja,
achou-se um jeito de furar a fila no sistema e pagar na frente os fornecedores
selecionados.
Ato
coletivo
O
decreto fura-fila é assinado por todo o chamado comitê de governança, formando
pelo governador Alberto Pinto Coelho, a advogada geral Maria Coeli e os
secretários Danilo de Castro (Governo), Leonardo Colombini (Fazenda) e Renata
Vilhena (Planejamento).
Excepcional
A
medida é inusitada, sem precedentes conhecidos, segundo quem trabalha na
Fazenda há 30 anos. Seu ineditismo é reconhecido no próprio decreto, cujo texto
admite claramente o seu “caráter
excepcional”.
Faz
sentido
A
peça que dá sentido ao decreto é a rubrica “restos a pagar” nas contas
do governo. Segundo a Associação dos Auditores da Fazenda, a atual gestão vai
deixar para o sucessor cerca de R$ 13 bilhões de dívidas referentes a serviços
executados e não quitados. A fila dos credores promete ser extensa e demorada.
Daí a medida excepcional que pode poupar ao menos um grupo de fornecedores de
uma espera por meses no próximo governo.